quarta-feira, 21 de abril de 2010

VIVER
Carlos Drummond de Andrade

Mas era apenas isso, era isso, mais nada?
Era só a batida numa porta fechada?

E ninguém respondendo, nenhum gesto de abrir: era, sem fechadura, uma chave perdida?

Isso, ou menos que isso, uma noção de porta, o projeto de abri-la sem haver outro lado?

O projeto de escuta à procura de som?
O responder que oferta o dom de uma recusa?

Como viver o mundo em termos de esperança?
E que palavra é essa que a vida não alcança?

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